Feijão é um dos alimentos que a comunidade de Barra do Pacuí produz para gerar renda. Além de abóbora, milho, baru. "Aqui a gente planta para comer e vende o que sobra", conta Antônio Conceição de Souza, um senhor de 76 anos, fala mansa e muito bom humor. A cada pergunta, seu Antonio lembrava de um causo, antigo, dos tempos em que o distrito era "um mato só"e que a palavra de um homem valia mais que qualquer dinheiro.
Foto: André Fossati
Nos tempos de hoje, porém, a palavra de alguns homens podem ser compradas. Seu Antônio contou que antes a comunidade tinha quatro rodas de moer mandioca. Foi quando um político chegou com a proposta de trazer uma casa de farinha mecanizada. Com ela, ninguém teria que seguir com os antigos moedores, à manivela. Todos gostaram da idéia. Tanto, que os materiais antigos foram destruídos antes do novo ser feito. "A casa começou a ser construída, mas o dinheiro acabou antes de terminar. Hoje a gente tem a casa ali só pela metade. Agora, ninguém mais planta mandioca", conta Antônio, cabisbaixo.
O vereador e presidente da associação da comunidade de Barra do Pacuí, Antônio Soares, admite que a escolha da casa de farinha foi tomada de forma precipitada. "Quando o projeto veio nós não pensamos muito. Fizemos uma votação e a maioria escolheu a reforma", afirma. Além dos 48 mil reais do governo, a associação entrou com outros 5 mil. Mas só de material foram gastos 32 mil reais. O erro do orçamento foi pensar que era possível comprar as máquinas e instalar tudo com o dinheiro calculado.
Terminar a construção da casa de farinha é uma das tarefas principais, já que antes a comunidade fabricava farinhas e beijús de primeiríssima qualidade. Relembrando desses tempos, o sorriso voltou ao rosto de Antônio, que prometeu comparecer à quadra de Barra do Pacuí. Todos estavam ansiosos para ver a sessão de cinema: essa ia ser a primeira vez que o distrito recebia um telão.
Foto: André Fossati
As primeiras imagens exibidas na tela foram as fotos tiradas pelas crianças que participaram da Oficina lúdica de fotografia. Os meninos estavam afoitos, do início da oficina até a sessão. Enquanto as fotos eram projetadas as crianças soltavam gritos e batiam palmas, encantados com o que viam. Depois foi a vez dos curtas Perto de casa e O fim do recreio.
Em seguida seriam exibido os longas Rio e Eu e meu guarda-chuva. Foi quando chegou seu Antônio de Souza. Todo arrumado, vestia uma calça jeans e uma camisa de manga larga azul marinho. O boné vermelho ficou em casa. No lugar, veio o radinho. "Eu estava ouvindo o jogo", conta. Seu Antônio ficou atento aos filmes durante toda a sessão. Nos despedimos só no final. Sorrindo - como está acostumado - nos deu um abraço e agradeceu com um sincero muito obrigado. E me disse como quem conta um segredo: "Se Deus quiser, ano que vem a gente vai ta aqui, plantando mandioca e fazendo farinha".
Por Juliana Afonso
André,suas fotos ficaram "biltiful!.O cara com o dog no colo...Parabéns pelo texto.Esse sertão tem história!
ResponderExcluir