Maria Antônia vive em uma casa de tijolos. Do lado de fora,
as paredes brancas, descascadas, dividem o espaço com os desenhos das crianças e as palavras azuis que
anunciam os quitutes da Dona Maria. “Faço biscoito para vender, pão para
vender. Faço um monte de coisa. Faço tapete, faço pano, quando aparece roupa
para consertar, eu conserto. E assim eu vou levando”, conta.
Foto: André Fossati
Maria Antônia vai levando. Assim como as outras 52 famílias
que vivem no Assentamento 1º de Maio, a 10 quilometros de Cachoeira do
Manteiga. A comunidade ali vive basicamente da agricultura, com o plantio de
grãos e frutas. O problema é imaginar como uma comunidade que depende da terra
pode viver sem água. O assentamento 1º de Maio tem seis anos. São seis anos sem
água.
A terra em que hoje vivem essas 52 famílias era de um
fazendeiro local. Como ela não era produtiva, o Incra (Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária) comprou aquela terra para dar às famílias que quisessem
trabalhar ali. “O pessoal ficou acampado na beira da estrada por um tempo. Isso
porque o Incra deu um prazo para o fazendeiro desocupar esse espaço. Demorou
seis meses”, explica Maria. Mesmo depois das casas organizadas, o problema da
água permanece.
Todos os dias, um caminhão pipa contratado pelo exército vai
até o assentamento. Cada pessoa tem direito a 20 litros de água. 20 litros para
beber, tomar banho, lavar os utensílios e molhar as plantas. “No primeiro ano a
gente quase não colheu, no segundo ano colhemos pouco, no terceiro colhemos
bem. Ai ano passado perdemos tudo por causa do sol. É essa luta todo dia”, diz.
O Incra também não realizou a divisão dos lotes, o que
dificulta o plantio de alimentos. Como ninguém sabe o espaço exato de cada um,
comercializar os produtos e dividir o dinheiro arrecadado fica complicado.
“Contratamos um agrimensor com o nosso dinheiro, mas agora o Incra disse que só
pode dividir aqui em 2017”, lamenta. Conversando um pouco mais com dona Maria a
gente percebe que o problema é ainda maior, já que a comunidade não tem o
registro das terras: o registro que eles têm é provisório.
E complica ainda mais. A demarcação do assentamento vai até
a beira do rio, mas só duas pessoas moram lá. “O Incra não deixou botar as
casas perto do rio. Agora que a gente tem uma caixa d’água que acabou de ser
reformada, não podemos usar porque não temos dinheiro para colocar uma tampa.
Ontem mesmo eu fui em buritizeiro atrás de telha, mas ela é 6 mil reais. A
gente não dá conta de pagar não”, explica. Muita gente já foi embora do
assentamento.
Foto: André Fossati
O dilema do assentamento 1º de Maio foi o tema do
documentário que o projeto Cinema no Rio exibiu em Cachoeira do Manteiga,
distrito de Buritizeiro. Ainda que os habitantes saibam da existência do assentamento, poucos entendem a situação dos que vivem ali. Na cidade também foram exibidos os curtas Perto de casa e O fim do recreio, além dos longas Rio e Eu e meu guarda chuva.
A comunidade do assentamento não pode ir até Cachoeira do Manteiga prestigiar a sessão. Sempre que um grupo sai do local é preciso autorização prévia da prefeitura e hora marcada para voltar. A estrada que leva até as cidades mais próximas são perigosas e cheias de buraco. Dona Maria reza para que, no ano que vem, quando o projeto volte e a gente passe pelo assentamento, sua comunidade já tenha água e esteja plantando. "Eu pensava que era rápido ter um lugarzinho meu, viver do meu trabalho. Cheguei aqui e estou esperando até hoje, ne?", sorri.
A comunidade do assentamento não pode ir até Cachoeira do Manteiga prestigiar a sessão. Sempre que um grupo sai do local é preciso autorização prévia da prefeitura e hora marcada para voltar. A estrada que leva até as cidades mais próximas são perigosas e cheias de buraco. Dona Maria reza para que, no ano que vem, quando o projeto volte e a gente passe pelo assentamento, sua comunidade já tenha água e esteja plantando. "Eu pensava que era rápido ter um lugarzinho meu, viver do meu trabalho. Cheguei aqui e estou esperando até hoje, ne?", sorri.
Por Juliana Afonso
Comentar o quê? Faltam-me palavras para exprimir e definir esse nosso governo"democrático".
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