sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Vida musical

"Choro santo do bom Deus
Gerou vida, planta, flor
Peixe, bicho, passarinho
E na sua ribanceira
À sombra do juazeiro
Muita gente se arrochou"

Por onde passam as águas do Velho Chico passam também as histórias de milhares de pessoas. É por isso que muitas delas já dedicaram estrofes, versos e até músicas inteiras a esse caudaloso rio. Com um breve passeio é fácil notar que, sem ele, nem metade das comunidades teriam sobrevivido nas secas terras que o bordeiam.

Foto: Juliana Afonso

Maria de Lourdes Oliveira, mais conhecida como Dona Lurdinha, nasceu em Itacarambi. Seus pais se mudaram para a cidade logo depois do casamento, com a promessa de uma vida melhor. Talvez por isso que ela cante Meu Rio São Francisco com tanta força. Essa alegre senhora de cabelos grisalhos e brincos de pérola falava sorrindo sobre os 68 anos vividos à beira do do rio, onde a água, a comida, a família e a própria vida eram comemoradas a cada dia como uma benção. "Esse rio é tudo pra mim e pra meu povo. Não tem como imaginar o que seria disso aqui sem ele", afirma.

De todas as alegrias que o rio deu à Dona Lurdinha, a música é a maior delas. O Reizado, o São Gonçalo e o Batuque são algumas das tradições das quais nunca deixou de lado. Os cantos e os ritmos fizeram parte da sua vida desde pequena. "Minha mãe sempre participou do Reizado. Ela tinha uma voz linda, linda". Aos 16 anos, com a permissão da mãe, ela pode entrar na roda.

Fomos recebidos de braços abertos e toques de zabumba. O hino de Itacarambi, o Meu Rio São Francisco e as melodias do Reizado formaram a trilha sonora que acompanhou a nossa tarde e que acompanha, ainda hoje, os dias de festa do grupo.

Foto: André Fossati

O grupo nunca deixou de cantarolar os ritmos que embalam a vida dos ribeirinhos, ainda que com o tempo e as mudanças da vida, muitos saíssem e muitos entrassem. De uns tempos pra cá, essa perda foi ainda maior, mas a Dona Lurdinha e seu marido sustentaram a tradição em Itacarambi. "Ficamos parados por um tempo, mas nunca abandonamos. O pessoal diz que se eu deixar o grupo muita gente vai querer deixar também. Não tem como parar, ne?", ri, com a sorriso de quem sabe a importância que a cultura tem.

Por Juliana Afonso

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