segunda-feira, 2 de setembro de 2013

O rio não está para peixe

E na falta dele, os ribeirinhos tem descoberto novas riquezas das Minas Gerais para complementar o sustento que antes vinha  da pesca. Foi o que descobrimos na passagem pelo vilarejo de Barra do Guaicuí, na foz do Rio das Velhas no São Francisco.

Foto: André Fossati

Com pessoas simples e muita natureza ao redor, o lugarejo já viveu tempos de fartura na época em que o rio era o principal  “caminho” que ligava o sudeste ao nordeste. A prova são as ruínas da imponente igreja de pedra construída pelos escravos no século XVII, às margens do rio das Velhas.
Antes símbolo de natureza vibrante, hoje o afluente traz parte do esgoto não tratado de Sete Lagoas e de Belo Horizonte para o Velho Chico. Com a poluição, a pesca artesanal, que era símbolo do São Francisco, já não consegue sustentar os ribeirinhos. “A gente nascia e crescia no rio. Brincava no rio e é de lá que vinha o sustento. Antigamente você tirava um salário por semana da pesca. Hoje a gente não consegue isso nem em um mês”, conta João Francisco Borges.
Foi na busca de alternativas para complementar a renda que o pescador começou a descobrir o valor do baru, uma fruta local que ele e a esposa Adriana colhiam para fazer farofa, doce e outras receitas típicas do norte de Minas.
Com um nome científico bem complicado – Dipteryx alata Vog – o baru é uma planta leguminosa arbórea nativa do Cerrado. Forte feito ele só, com textura de pedra, o fruto do baruzeiro guarda uma castanha deliciosa. Quando torrada, ela tem o sabor bem perto da castanha do caju ou amendoim. Para saborear a iguaria, porém, é preciso habilidade na hora de partir sua casca. Em Barra do Guaicuí, é de uma a uma, no martelo ou em facões que castanha vai enchendo sacos que melhoram a vida das famílias no fim do mês. Hoje eles vendem a castanha para os vizinhos e para cidades maiores do entorno como Pirapora.
Foto: Juliana Afonso

Após descascado, ela pode ser servido como um ótimo tira-gosto ou no preparo com o arroz, em farofas e receitas de doces típicos como a paçoca, o pé-de-moleque, canjica, rapadura e muitos outros. Além do sabor de cerrado, o fruto tem um destaque especial: tudo dele se aproveita. A camada de madeira em seu interior é usada como um carvão pois é muito inflamável, a massa que envolve a castanha vira uma ótima geléia.
Com a típica criatividade e versatilidade brasileira, os ribeirinhos vão encontrando novos caminhos para a sustentabilidade. Ainda assim, João Francisco lembra que eles não podem virar a costa para o rio. No documentário exibido na sessão de cinema em Guaicuí, os entrevistados chamaram atenção para para importância de se recuperar o Velho Chico. "Vocês vão embora e a gente fica aqui pensando sobre tudo isso, pensando em como trabalhar todos esses temas com as crianças", conta a diretora Hedra Martins Ribeiro, diretora da Escola Municipal Dulce Lopes.


Por Camila Fróis


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