E na
falta dele, os ribeirinhos tem descoberto novas riquezas das Minas Gerais para
complementar o sustento que antes vinha
da pesca. Foi o que descobrimos na passagem pelo vilarejo de Barra do Guaicuí,
na foz do Rio das Velhas no São Francisco.
Foto: André Fossati
Com pessoas simples e muita natureza ao redor,
o lugarejo já viveu tempos de fartura na época em que o rio era o principal “caminho” que ligava o sudeste ao nordeste. A
prova são as ruínas da
imponente igreja de pedra construída pelos escravos no século
XVII, às margens do rio das Velhas.
Antes símbolo de natureza vibrante,
hoje o afluente traz parte do esgoto não tratado de Sete Lagoas e de Belo
Horizonte para o Velho Chico. Com a poluição, a pesca artesanal, que era
símbolo do São Francisco, já não consegue sustentar os ribeirinhos. “A gente nascia e crescia no rio. Brincava no
rio e é de lá que vinha o sustento. Antigamente você tirava um salário por
semana da pesca. Hoje a gente não consegue isso nem em um mês”, conta João
Francisco Borges.
Foi na busca de alternativas para complementar
a renda que o pescador começou a descobrir o valor do baru, uma fruta local que
ele e a esposa Adriana colhiam para fazer farofa, doce e outras receitas
típicas do norte de Minas.
Com um nome científico bem complicado –
Dipteryx alata Vog – o baru é uma planta leguminosa arbórea nativa do Cerrado.
Forte feito ele só, com textura de pedra, o fruto do baruzeiro guarda uma
castanha deliciosa. Quando torrada, ela tem o sabor bem perto da castanha do
caju ou amendoim. Para saborear a iguaria, porém, é preciso habilidade na hora
de partir sua casca. Em Barra do Guaicuí, é de uma a uma, no martelo ou em
facões que castanha vai enchendo sacos que melhoram a vida das famílias no fim
do mês. Hoje eles vendem a castanha para os vizinhos e para cidades maiores do
entorno como Pirapora.
Foto: Juliana Afonso
Após descascado, ela pode ser servido como um
ótimo tira-gosto ou no preparo com o arroz, em farofas e receitas de doces
típicos como a paçoca, o pé-de-moleque, canjica, rapadura e muitos outros. Além
do sabor de cerrado, o fruto tem um destaque especial: tudo dele se aproveita.
A camada de madeira em seu interior é usada como um carvão pois é muito
inflamável, a massa que envolve a castanha vira uma ótima geléia.
Com a típica criatividade
e versatilidade brasileira, os ribeirinhos vão encontrando novos caminhos para
a sustentabilidade. Ainda assim, João Francisco lembra que eles não podem virar
a costa para o rio. No documentário exibido na sessão de cinema em Guaicuí, os
entrevistados chamaram atenção para para importância de se
recuperar o Velho Chico. "Vocês vão embora e a gente fica aqui pensando sobre tudo isso, pensando em como trabalhar todos esses temas com as crianças", conta a diretora Hedra Martins
Ribeiro, diretora da Escola Municipal Dulce Lopes.
Por Camila Fróis
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