terça-feira, 17 de agosto de 2010

Grande sertão mineiro


“Fernando! Corre aqui”, gritou Inácio. Se em Felixlândia tivemos dificuldades para encontrar os personagens, mal descemos do carro e Inácio já teve uma ideia. De longe, viu uma charrete e o entregador de leite. Teve o lampejo de acompanhá-lo para pegar o depoimento dos compradores de leite. Fernando e a câmera seguiram dentro da charrete para captar um pouquinho da trajetória do leiteiro que ama sua profissão e, mesmo tendo propriedades, se orgulha em abastecer a região com leite e outras verduras frescas. Essa rotina marca o pequeno vilarejo que guarda a história do importante personagem real das obras de Guiarães Rosa: Manuel Nardi, o Manuelzão.

Zito, Bindoia, Zé Leite... Quase todo mundo da cidade conhece os companheiros que tocaram boiada junto com Manuelzão, mas sobre o cidadão mais famoso de Andrequicé as opiniões são diferentes. “Ele era esquisito, bruto.Quando foi para ele morrer, disse que não queria ser enterrado no meio de gente. Ficou no canto do cemitério”, conta Maria Amaral para as câmeras.

Uma imagem chamava a atenção: a casa bem antiga logo no início da cidade. Dona Olga na janela. Se em Felixlândia as pessoas pareciam mais receosas com a câmera e dificilmente autorizavam a gravação, em Andrequicé, pareciam acostumadas com as lentes. Dona Olga nos convidou para entrar e gentilmente aceitou ser entrevistada para o filme da cidade. Talvez isso não tenha ficado muito claro - a maioria das pessoas entendiam que as filmagens eram para passar na televisão e não no cinema na praça.

Com riqueza de detalhes Dona Olga nos contou da vida de antigamente, das festas e do carnaval. Algumas imagens ficaram na cabeça. A primeira é imaginar que a mãe de Olga se casou tão nova que volta e meia seu marido a pegava brincando de boneca. Outra é tentar visualizar a conversa de Manuelzão e o professor Apolo Heringer, da Faculdade de Medicina da UFMG. “Por que projeto Rio das Velhas e não Manuelzão? Quando Apolo saiu, ele comentou comigo que agora poderia morrer feliz. Era assim que ele queria ser lembrado”, nos conta Dona Olga - o projeto de revitalização do rio das Velhas leva o nome do vaqueiro.

Depois fomos coversar com a filha de Manuelzão, Maria Nardi. Ela não escondeu o desconforto e a timidez perante as câmeras e as lembranças de seu pai pareciam estar se esvaindo. Sobre a fama de Manuelzão, comenta: “Era um simples do sertão, sem estudo, nem nada. Mas sou feliz com o reconhecimento dele. Acho que isso até o ajudou a viver mais.”




5 comentários:

  1. Bacana demais! Vi o Link na Rede Andrequicé tbm...

    http://redeandrequice.ning.com/

    abrçss,

    Daniel

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  2. Cê conversou com a filha de Manuelzão? Ô, gente.

    Olha só, não sabia dessas outras coisas que o Cinema no Rio faz, e achei legal demais. Mais que levar cinema, é fazer audiovisual com eles, deles, pra eles...

    Os textos tão muito bacanas!

    Abs,
    Sâmia.

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  3. Oi Daniel!
    Que bacana a rede.. não conhecia
    Abraços

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  4. Pois é.. a gente faz um filme com a comunidade que é exibido antes do filme principal. É a parte mais bacana..

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