André Midani foi o responsável pelo lançamento da Bossa Nova. “Fui uma das duas pessoas que acreditaram que a Bossa Nova iria ser adotada pela juventude brasileira de classe média”. Numa época de intensas mudanças, explica. Mudança que fez Midani escolher o Brasil por acaso. Ele se mudou para França com 12 meses por causa da poliomelite. Foi chamado para combater na guerra da Argélia, mas, aos 21 anos, fugiu num navio com destino para América do Sul. “Eu ia para Buenos Aires, mas quando o navio atracou em Guanabara, eu fiquei por lá”. Arrumou emprego no depósito de uma compahia de discos até que sugeriu duas gravações que fizeram muito sucesso. Depois disso, foi trabalhar na área de marketing. Conheceu Menescau, Nara Leão e o pessoal que fazia uma música diferente. Eles começaram o movimento distribuindo disco no colégio, divulgando o novo som boca a boca.
O olhar aguçado, parece mesmo ter vindo de muito antes, ainda na sua juventude. Em 1967 ele já era presidente da Universal. De cara percebeu o talento de Caetano, Gil, Gal, Chico e Elis. “Estavam começando a despontar no colégio e eu ajudei a transformar em astro”, afirma. E muita gente mesmo diz que o tropicalismo não seria o mesmo sem André. Como se não bastasse, esteve a frente do rock brasileiro da década de 80, lançando bandas como Kid Abelha, Titãs e Ultraje a Rigor.
André Fossati
“O astro do futuro não se sabe”, André responde talvez um pouco cansado das perguntas que tentam fazer dele um adivinhador das tendências da música do futuro. No passado, Midani tocou bateria num grupo de jazz na França, mas achava que qualquer um “batucava" igual a ele. Por isso, desistiu de tocar. O nome da certidão é Andre Haidar Midani, a cidade natal, Damasco na Síria. Midani escreveu recentemente um livro:"Música, ídolos e poder. Do vinil ao download".
E assim, ele manteve o seu silêncio dentro do barco. Conversando sobre a paisagem, os pequenos acontecimentos do dia, Midani ia dando pistas da sua experiência e trajetória no meio musical. Principalmente quando alguém perguntava sobre música ou quando ele falava da crise das grandes gravadoras. “O grande erro das grandes gravadoras foi colocar a criatividade a serviço da tecnocracia”, essa frase ficou na cabeça. Só mesmo a petulância jornalística para contrariar a ordem estabelecida das coisas, quebrar a rotina com entrevistas num local onde pouco conta a história de cada um.