Peço para Arnon Siqueira escrever seus pensamentos. Ele fala com emoção, mas de um jeito que não se entende. Sentei no meio fio durante a sessão de São Romão para observar a reação das pessoas. Para descrever semblantes, sorrisos e olhares durante o filme da cidade. Tudo pela minha fixação por perceber outro no seu espelhamento na telona. Arnon estava ao lado e não se incomodava com minhas perguntas. Tentei me acostumar com os sons que o problema na fala impede a distinção, mas minha capacidade foi pouca e entreguei a escritura.
“O filme divulga com emoções
As culturas das nações
Vamos ao cinema ver nossa arte
E a arte feita pela natureza”
Esse é um trecho que Aron escreveu no meu caderno. Apaixonada que sou pela oralidade, tive que sentir o espírito de palavras tão espontâneas. Pedi pra que ele escrevesse o que dizia, só para que pudesse fazer sentido na minha cabeça.
“Fim. Arnon Siqueira. São Romão. 17-09-2010”.
Cadernos
São Romão respira história que é escrita até hoje. O artista Telêmaco devorou os livros e conta tudo desde o começo. São Romão era cidade próspera, em 1719 já era sede judiciativa de Salvador. Com o tempo foi perdendo a força e rebaixada a vila. Como herança, Telêmaco, com seus 40 anos, se lembra da juventude e dos clubes da cidade que eram separados entre negros e brancos. “Sempre fui metido a sabedor”, diz. A casa de Telêmaco é de adobe e ecologicamente correta. Seus quadros com traços livres e subversivos refletem alguém que vive na “Ilha perdida no tempo”, como ele mesmo diz.
Essa ilha tem suas preciosidades, que infelizmente o tempo não perdoa. Para entendermos a tradição, Dona Maria do Batuque deveria viver para sempre. O seu toque de caixa inspira demais a gente, ainda que ela não tenha consciência. Sem ser valorizada pela cidade, mas muito reconhecida no mundo estrangeiro, ela mostra o livro e o CD gravado por quem veio de muito longe.
Uma casa foi construída com dinheiro da venda dos livros. A casa nova fica trancada, ela mora da antiga feita de terra. A construção atual é mesmo para receber os visitantes. Quando chegamos, ela procurou a chave e pediu desculpas por está tudo empoeirado. Pediu para buscar o roncolho e duas caixas. Ela pegou a mais grave e eu tentei acompanhar na mais aguda. Com vergonha de que meu som pudesse interferir na magia de ver Dona Maria bater caixa e cantar as melodias dos antigos, tudo ao mesmo tempo.
ohh São Romão! Terra de gente boa, terra de braba, forte e valente. Dia de emoção ouvindo Dona Maria e seu roncador. Adorei o texto, Pâmilla. Já estou com saudades de tudo.
ResponderExcluirAbs. Pedro
Oi Pedro!
ResponderExcluirQue bom que vc gostou.. São Romão dá saudade mesmo, a vontade era ficar o dia todo ouvindo Dona Maria
Abração