Os batuqueiros tocam o roncolho
Uma lata de leite de metal. Tira a tampa e coloca o couro de bezerro. Dentro da lata uma vara. O roncolho é instrumento essencial nos batuques. Quando puxa a vara, o som é rouco, grave, intenso. Misturado às três caixas, ele sobressai e faz com que o batucar tenha sonoridade única. Única por que o instrumento é singular. No batuque de Ponto Chique ele é tocado por duas pessoas. A lata de leite é comprida. Um senta em cima da lata para batucar na parte coberta de couro de bezerro e outro senta num banquinho e puxa a vara do roncolho.
“Eles não gostam muito de nós”, o batuqueiro Olímpio Gonçalves fala do desprezo do pessoal da cidade com relação ao batuque. Na primeira vez que o Cinema no Rio passou por Ponto Chique, eles não tocavam muito e não queriam se apresentar antes da sessão. Com muita insistência, eles toparam se apresentar na praça. De lá pra cá muita coisa mudou. “A gente foi entrevistado na sala do presidente Lula. Lá tem três mesas maiores e uma menor”, explica. Seu Olímpio veio pedir apoio para Inácio, eles só não se apresentaram ainda em Belo Horizonte. “Por que a gente quer é crescer. Antes do Cinema no Rio passar a gente não sabia nem brincar. Hoje a gente leva essa história adiante”, emenda.
A dança eles explicam que veio da Bahia na época dos escravos. Que veio com o pessoal que andava pelo rio. “Canoeiro o que você trouxe na canoa? Cravo, rosa e muita coisa boa”, canta. O batuque é feito de conversa. A cantoria também resolve os dilemas. Dona Isabel de 102 anos é a rainha do batuque. Ela e o filho, Valeriano, relembram o dia que a tia de Dona Isabel apanhou do marido. O marido estava na caixa e a tia puxou a melodia. “Foi você João.”. “Não fui não Maria.”, ele respondeu. “Foi você que me bateu no romper do dia”, ela denunciou, em melodia, na roda de batuque. Quando se cria um novo verso, não se esquece mais. Ele é incorporado ao batuque e repetido pelas gerações. O que faz do batuque de ponto Chique único é a dança que não tem em nenhum outro lugar. “Ninguém dança igual a gente”, comenta Olímpio.
“Eles não gostam muito de nós”, o batuqueiro Olímpio Gonçalves fala do desprezo do pessoal da cidade com relação ao batuque. Na primeira vez que o Cinema no Rio passou por Ponto Chique, eles não tocavam muito e não queriam se apresentar antes da sessão. Com muita insistência, eles toparam se apresentar na praça. De lá pra cá muita coisa mudou. “A gente foi entrevistado na sala do presidente Lula. Lá tem três mesas maiores e uma menor”, explica. Seu Olímpio veio pedir apoio para Inácio, eles só não se apresentaram ainda em Belo Horizonte. “Por que a gente quer é crescer. Antes do Cinema no Rio passar a gente não sabia nem brincar. Hoje a gente leva essa história adiante”, emenda.
A dança eles explicam que veio da Bahia na época dos escravos. Que veio com o pessoal que andava pelo rio. “Canoeiro o que você trouxe na canoa? Cravo, rosa e muita coisa boa”, canta. O batuque é feito de conversa. A cantoria também resolve os dilemas. Dona Isabel de 102 anos é a rainha do batuque. Ela e o filho, Valeriano, relembram o dia que a tia de Dona Isabel apanhou do marido. O marido estava na caixa e a tia puxou a melodia. “Foi você João.”. “Não fui não Maria.”, ele respondeu. “Foi você que me bateu no romper do dia”, ela denunciou, em melodia, na roda de batuque. Quando se cria um novo verso, não se esquece mais. Ele é incorporado ao batuque e repetido pelas gerações. O que faz do batuque de ponto Chique único é a dança que não tem em nenhum outro lugar. “Ninguém dança igual a gente”, comenta Olímpio.
Todo mundo entra na roda
Dentro da roda
No terreiro, os pintinhos, a casa simples e o varau de roupa. De repente entra o pessoal do Cinema no Rio, o fotógrafo e a TV Cultura. As câmeras invadem a rotina de um dos locais onde brincam os batuqueiros. Depois de muitas filmagens eles vão se apresentar de novo antes da sessão. Depois da apresentação, ainda muito tímida, talvez por causa de tanto holofote e luz que atrapalha até a visão. Talvez por que o medo de se apresentar na cidade de origem ainda não passou. Ou por que é difícil resumir a tradição para apresentar no palco.
Fui no barco e coloquei uma saia. Ansiosos para aprender um pouco do batuque, pedimos para eles brincarem, depois da apresentação, na rua ao lado da sessão de cinema. Roda para um lado, roda para o outro. Depois do último giro, uma bate o ombro no ombro da outra. Para convidar para dançar, o movimento é livre, mas o olhar deve se manter fixo nos olhos de com quem você quer girar. Foi a parte mais difícil. Me convencer de que eu deveria estar ali e poder olhar nos olhos das mulheres que fazem dessa brincadeira a sua vida.
As mulheres geralmente só dançam e respondem o cantador. Quase nunca puxam o roncolho. Eu fiquei curiosa com o som, a curiosidade superou o jeito certo das coisas seguirem. Deixa eu ver como toca. Talvez por que eu era de fora, eles me ensinaram, e me deixaram tentar. “Olhá só ela está puxando o roncolho”, gritaram. “Você tem que contar para a Fernanda [antropóloga que esteve com eles na edição anterior]”.
Saímos de lá ainda sem entender direito como funciona o tal batuque. A ida é rápida mesmo, a interação mais ainda. “Imagina se a gente pudesse ficar aqui um mês. Só com o tempo a gente consegue entender o que é que se fala na roda”, comenta a antropóloga Amanda. Os versos ficaram escondidos no canto que ainda embaralha as nossas cabeças e, terminado o batuque, nos diz Olímpio: “Vocês viram que eu cantei também pro Cinema?”. Nós sorrimos em agradecimento. Ainda que não tenhamos identificado a cantiga quando cantada, o elogio do cantador, nos fazendo batuque, alegra e arrepia o corpo cansado de tanto pulo e rodopio.
Fui no barco e coloquei uma saia. Ansiosos para aprender um pouco do batuque, pedimos para eles brincarem, depois da apresentação, na rua ao lado da sessão de cinema. Roda para um lado, roda para o outro. Depois do último giro, uma bate o ombro no ombro da outra. Para convidar para dançar, o movimento é livre, mas o olhar deve se manter fixo nos olhos de com quem você quer girar. Foi a parte mais difícil. Me convencer de que eu deveria estar ali e poder olhar nos olhos das mulheres que fazem dessa brincadeira a sua vida.
As mulheres geralmente só dançam e respondem o cantador. Quase nunca puxam o roncolho. Eu fiquei curiosa com o som, a curiosidade superou o jeito certo das coisas seguirem. Deixa eu ver como toca. Talvez por que eu era de fora, eles me ensinaram, e me deixaram tentar. “Olhá só ela está puxando o roncolho”, gritaram. “Você tem que contar para a Fernanda [antropóloga que esteve com eles na edição anterior]”.
Saímos de lá ainda sem entender direito como funciona o tal batuque. A ida é rápida mesmo, a interação mais ainda. “Imagina se a gente pudesse ficar aqui um mês. Só com o tempo a gente consegue entender o que é que se fala na roda”, comenta a antropóloga Amanda. Os versos ficaram escondidos no canto que ainda embaralha as nossas cabeças e, terminado o batuque, nos diz Olímpio: “Vocês viram que eu cantei também pro Cinema?”. Nós sorrimos em agradecimento. Ainda que não tenhamos identificado a cantiga quando cantada, o elogio do cantador, nos fazendo batuque, alegra e arrepia o corpo cansado de tanto pulo e rodopio.
Oi, Pâmela, tudo joia?!
ResponderExcluirTá muito legal o blog, viu, parabéns!
Aqui, durante a viagem, não consegui falar com o comandante Cassiano, do vapor Benjamim Guimarães. Vc não poderia, por favor, verificar com o Inácio se ele não tem o telefone dele, em Pirapora? Se puder, me envia uma msg com o número para (31) 8609-3680.
É isso! Brigadão!
Bjs, Fernando Torres (Viver Brasil)
O texto tem balanço, sabe! E ritmo!
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