O asfalto vai devorar a terra. Meu filho, sabe o que é uma cobra preta que vai devorar muita gente e que não sabe onde começa e termina? Seu Dão cresceu com essa questão na cabeça. Ficou muringando. A idade mais avançada e a sua relação com o encantamento das narrativas dos antigos, fez com que desvendasse o mistério. “A cobra preta infinita é o asfalto. Que não tem começo e não tem fim”, me explica. “Os antigos eram profetas sem saber ler. Sabiam de nada e sabiam de tudo ao mesmo tempo”, conclui.
Durante a entrevista na comunidade de Palmeirinha, a vontade era passar o dia ouvindo as narrativas que não tem limite, que explicam o inexplicável e que dão sentido aonde a razão falta. Seu Dão conviveu com o caboclo d’água. Já passou alguns perrengues, mas o menino encantado do rio nunca fez maldade com ele. “Antônio Quibo atirou no Cabloclo. Ele é encantado e não morre.” Ele conta que o Caboclo derrubou a casa de Antônio que quis zombar do garoto. Pelo fundo do rio, cavando por baixo da terra, ele chegou na casa e fez com que esta fosse devorada.
O nome Pedras de Maria da Cruz também tem explicação. Maria da Cruz era mulher malvada. “Por isso a cidade não desenvolve”, completa. As pessoas que vinham de São Paulo a pé e passavam por Pedras eram mortas e jogadas no rio pela mulher. Debaixo da igreja da cidade tem um salão com Cabloclo d´água, mãe d´água e carreiro de boi. Ninguém deve ousar chegar até lá. Certo dia um mergulhador foi e nunca mais voltou.
Durante a entrevista na comunidade de Palmeirinha, a vontade era passar o dia ouvindo as narrativas que não tem limite, que explicam o inexplicável e que dão sentido aonde a razão falta. Seu Dão conviveu com o caboclo d’água. Já passou alguns perrengues, mas o menino encantado do rio nunca fez maldade com ele. “Antônio Quibo atirou no Cabloclo. Ele é encantado e não morre.” Ele conta que o Caboclo derrubou a casa de Antônio que quis zombar do garoto. Pelo fundo do rio, cavando por baixo da terra, ele chegou na casa e fez com que esta fosse devorada.
O nome Pedras de Maria da Cruz também tem explicação. Maria da Cruz era mulher malvada. “Por isso a cidade não desenvolve”, completa. As pessoas que vinham de São Paulo a pé e passavam por Pedras eram mortas e jogadas no rio pela mulher. Debaixo da igreja da cidade tem um salão com Cabloclo d´água, mãe d´água e carreiro de boi. Ninguém deve ousar chegar até lá. Certo dia um mergulhador foi e nunca mais voltou.
O quilombo
Durante a passagem do cinema no Rio em 2007, os antropólogos do projeto descobriram a comunidade negra de Palmeirinha. Ali, eles fizeram amizade com Agmar, e integraram-lhe da questão quilombola no Brasil, da possibilidade de requisitar o certificado de auto-reconhecimento e de solicitar o título das terras cuja escritura, no nome da matricarca da comunidade, Dona Juliana, não está legalizada. Interessado, Agmar começou a pesquisar a história do quilombo, entrevistar moradores e a viajar pela região em busca de informação. “É um vício, minha vida é tornar palmeirinha um quilombo”, diz. O grande desafio agora é convencer a comunidade e fazer a auto-estima deles se elever com o nome quilombo ainda muito estigmatizado.
Perguntei para seu Dão sobre o quilombo ele responde que isso é coisa dos antigos e explica a origem. “Tinha um negro que fugiu da áfrica e veio para cá. Seu nome era Nego Cadete. Uma vez ele Ele pediu para descansar na casa meus avós e eles gostaram da prosa dele. Por lá ele ficou", conta. Seu Dão relata que Nego Cadete viu um papagaio rodando a roça e avisou: "Isso é uma cascavel que vai picar um lá em Goiás". Todo mundo zombou dele. Ele foi girando uma vara, o papagaio foi descendo e se transformou numa cascavel. Ele comenta que Nego Cadete era pessoa muito ativa.
Dona Cida se lembra da novela Sinhá Moça. “Quilombo é igual o da novela. Muito triste, mas isso não existe mais”, conta. Ela nunca foi ao cinema, só assiste imagem pela televisão. Lá na comunidade Palmeirinha, durante a nossa visita, ela comentou do ônibus escolar que iria levar as crianças para a sessão de cinema. Dona Cida estava concentrada. O filme da cidade era sobre a comunidade Palmeirinha, só se ouvia gargalhadas com a imagem do pessoal fazendo farinha de tapioca. Num jogo lúdico entre a questão quilombola, as narrativas de Dão e as imagens cotidianas da comunidade.
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