terça-feira, 14 de setembro de 2010

Navegantes de primeira viagem


André Fossati

Os navegantes de primeira viagem escondiam a ansiedade de passar muitos dias e noites dentro do barco. O quarto é muito pequeno? Tem banheiro? Chuveiro quente? Inácio que já seguiu o São Francisco várias vezes tenta acalmar os tripulantes. Sua primeira viagem foi em 1975. Inácio adora contar a aventura. “Era época da ditadura. As cidades do Velho Chico eram muito diferentes”, lembra. Estrada sem asfalto, dificuldade de acesso, a falta de recursos era muito maior. Ele desceu no vapor Venceslau Braz, famosa embarcação que movimentava os portos ao longo do Velho Chico.

Hoje o rio é outro. Muita gente diz que nunca viu esse rio tão seco, sem peixe. Mesmo assim, a paisagem não deixa de ser encantadora. Mas a água azulzinha, os pássaros coloridos vez ou outra dão lugar as fábricas e sua fumaça à beira do rio. Agora, sou capaz de imaginar toda a movimentação de embarcações e sou capaz até de ouvir a diversidade sonora dos apitos. Inácio relembra da expedição e da movimentação do rio. Do forró perto dos portos e do apito que avisava a partida do próximo vapor.

Depois de ver o barco zarpar, e se acostumar com o balanço e com a movimentação do rio, a tripulação se acalma. Olhares perdidos nessa imensidão azul e a paz do silêncio dos pensamentos. Escrevo agora olhando para o rio e prestando atenção nas pessoas. A jornalista Bernadete do Canal Brasil conta das suas andanças e não perde o fôlego. Ela passaria toda viagem contando seus casos sem repetir nenhum. “Me perguntaram onde encontro Deus. Eu respondi: dentro de uma caverna”. O editor de direitos autorais, Dario escuta pacientemente as histórias da jornalista. Ele veio como convidado, mas faz questão de participar do dia-a-dia do projeto, conversar com as pessoas e participar das seções de cinema. “O mais legal é ver o povo feliz e os sorrisos das crianças.”, diz.

O fotógrafo André Fossati, se cansou de contar piadas. “A roça sou eu”, para se concentrar nas imagens diárias que produz do rio. O jornalista Fernando, da revista Viver Brasil, que parecia ansioso com a viagem, se acomoda no segundo andar do Luminar e perde sua visão no horizonte. A assessora de imprensa Júlia, o cineasta Fernando conversam despretensiosamente. A oficineira Sâmara não desgruda de sua câmera. O resto da tribulação: a antropóloga Amanda, as oficineiras Michele e Erika foram se acomodar no camarote, quarto pequeno, no primeiro andar da embarcação, com vários beliches e um ventilador.

É assim mesmo que seguimos nossa jornada. Como diz o produtor executivo, Rangel, “o projeto começa quando entramos no barco”. É só depois que nos deparamos com a imensidão do rio que damos conta dessa empreitada e dos quilômetros, cidades e histórias que ainda temos pela frente. Inácio grita atenção ao belo encontro entre o rio das Velhas e o São Francisco. Os jornalistas correm para fotografar o momento. Pequenas embarcações margeiam o rio das Velhas em Barra do Guaicuí. Chegamos agora ao nosso primeiro destino.

Um comentário:

  1. Passaram-se uns dias, mas nunca é tarde para desejar boa viagem. Uma viagem, aliás, que já começou há muito muito tempo, né, desde as primeiras idas. Continuem preenchendo nossos dias de poesia, Pâmilla, você e toda a equipe, seja em cada relato, foto ou vídeo.

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