sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A morte do dourado



Os fotógrafos da embarcação saem correndo. Câmeras gigantes, que acoplam lentes maiores que o próprio instrumento. Muitos cliques. Todo mundo corre para a beira do barco. Eu escrevo com fone de ouvido, por causa do barulho constante do motor. Logo abandono o texto para ver o que aconteceu. Fisgaram um peixe.

A rotina dentro da embarcação é outra e os acontecimentos importantes também. Todo mundo saiu do estado de letargia pelo balancear do barco, para um estado de euforia, depois de quase cinco horas de viagem. Carlinhos da tripulação pescou um dourado de três quilos. Parece pouco considerando as histórias de ribeirinhos, como Seu Binu, que jura ter visto pescador pegar peixe de 200 quilos. “Pode anotar aí”, ele reforça a veracidade do fato. De toda forma era peixe grande e Carlinhos teve que segurar o anzol com firmeza. Todo mundo correu para ver o peixe no rio que parecia inabitado.

“Coitado. Eu não consigo olhar”, eu disse para Amanda. “Imagina você estar lá tranqüilo querendo comer algo e ser fisgado desse jeito”, refletiu Amanda. A Cris começou a chorar silenciosamente. Logo saquei que era por causa do sofrimento da criatura. O fato é que estávamos abaladas com o findar precoce do habitante do rio. Além disso, a imagem do peixe saindo do anzol, perdendo o fôlego enquanto busca algum ar para respirar, lutando para ficar na água, traz certa agonia.

Mesmo assim, a euforia tomou conta de todos. Rodrigo Gonçalves da Petrobrás tirou foto com o peixe. Hoje é o primeiro dia dele no barco e já presencia o maior dos acontecimentos. Ele, que também é pescador, pretende mostrar a façanha para os amigos. Inácio pegou o anzol e queria repetir o feito, empreitada sem sucesso. Esse foi o maior peixe que a tripulação pescou durante todo o trajeto. Todos os dias eles colocam o anzol na água e esperam pegar alguma coisa. Contrariando as histórias de pescaria do passado, em que dava para pegar curimatã com as mãos. De alguma forma, todo mundo acreditava que esse rio não iria dar mais peixe. È por isso que uma simples pescaria é motivo de orgulho, sinal de que o Velho Chico ainda não morreu.

Eu preferi me concentrar nas andorinhas que vivem acompanhando o barco. Elas fizeram ninho no Luminar e ficam sobrevoando em volta para não perder a morada. São duas andorinhas azuis que parecem ter decorado o caminho da embarcação. Cercados pelo rio e pelas andorinhas, o sinal é de que tudo está em seu devido lugar. O rio tem peixe, a natureza ainda está viva, mesmo com a fumaça das carvoarias que se misturam ao azul do céu e do rio.
Chegamos em Itacarambi. As lavadeiras lavam roupas no rio. Os meninos nadam perto delas e alguns ficam no barranco tentando comunicar com a embarcação. "Tira foto da gente", eles gritam de longe.

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