sábado, 11 de setembro de 2010
Manuelzão ainda vive
Foto: André Fossati
Não tenho medo da morte
Por que sei que vou morrer
Tenho medo do amor falso
Que mata sem Deus querer
Esse é o verso mais famoso de Manuelzão. Verso que ele recitava para o povo da cidade, jornalistas de fora e que esteve impresso na lembrança da missa de sétimo dia. “Manuelzão não morreu, ele continua até hoje com a gente. Ele é o Roberto Carlos de Andrequicé”, comenta Dalva do grupo de bordadeiras da cidade. “Ele sabia fantasiar histórias. O grande diferencial é que ele não ficava só no alicate, ele ia além”, relembra. Se Manuelzão foi o vaqueiro mais lembrado durante suas andanças com Guimarães Rosa é por que ele sabia como fantasiar e acrescentar os causos que ouvia dos antigos.
Quando os moradores de Andrequicé recontam a pessoa de Manuelzão, a imaginação vem à tona novamente. Não uma imaginação desconexa e às vezes sem sentido como a de Marco Túlio, mas uma memória que vacila e reinventa.
“Me fala um pouco sobre Manuelzão”, pergunto para a filha Aparecida Nardi. “Qual? O famoso ou o nosso Manuelzão?” Na lembrança de Aparecida, ele era homem simples que acordava cedo, fazia café e cuidava de uma horta enorme que plantou com a esposa. Ele dormia cedo, mas na época da novela Roque Santeiro, ele dormia mais tarde. Aparecida conta quando Manuelzão foi conhecer os personagens da novela, Viúva Porcina e o Sinhozinho Malta. “Ele não tinha medo de nada, só de avião. Dizia que para morrer de avião, só se um deles caísse na cabeça dele”, mesmo assim, com o tempo, Manuelzão se rendeu ao transporte dos céus e passou a dizer que era a melhor coisa do mundo, nos conta Aparecida.
Era homem inquieto que, quando ficava mais de uma semana sem viajar se entristecia. Ele andou a cavalo até os 90 anos e passou 40 dias e 40 noites com Guimarães Rosa. Dava palestra em Belo Horizonte. “O Doutor Apolo, vinha muito aqui e buscava ele para dar palestra na faculdade. Ele ia batizar o primeiro filho dele, mas acabou morrendo antes”, comenta.
Homem que gostava muito de mulher bonita e que era capaz de passar uma noite inteira contando caso para os jornalistas que vez ou outra iam o visitar. “Os repórteres tiveram aqui e levaram ele para a praia. Ele adorou as mulheres de biquíni”, conta Aparecida. Homem que não aceitava que falasse que Aparecida era filha adotada, isso por que, para ele, pai é quem cria. “Não tem um dia que a gente não fala dele”, termina.
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Andrequicé e Manuelzão se confundem, me parece... Como foi o filme na cidade?
ResponderExcluirO Filme ficou muito legal. Já postei o vídeo no blog
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