domingo, 5 de setembro de 2010

Pelos chifres



Por Amanda Horta
Em Ponto Chique é tempo de vaquejada. O evento que reúne um mundo de vaqueiros, vindos de vários cantos da região, faz sensação entre os moradores que, no Parque “Nô Rabelo” assistem em festa os bois, em disparada, serem tomados pelo rabo e jogados no chão. Quando a queda faz o bicho pôr a as patas no pro ar, o narrador confirma o ponto e a próxima dupla de vaqueiros já entra na pista para tentar repetir a proeza.

A lavoura e o gado compõe a vida de Ponto Chique, e entre ‘causos’ e ‘aboios’ se vai construindo o filme desta edição. O primeiro de nossos encontros é com Sebastião Gonçalves Rocha (47), o Rochinha. Criado por entre os bois de seu pai – com a lição de que aquilo que a vida não dá, se produz – Rochinha se fez vaqueiro de seus próprios bichos, e amigo fundo de seus animais. Seu cavalo, que escutava de perto nossa conversa, nos parecia sempre inquieto, e Rochinha nos explicava: “é saudade da que ele tem. Hoje eu o levo de volta pra casa”.

A procura por um berrante nos levou à casa de Sr. Raulino (59),que mesmo guardando o instrumento, disse que aboio se faz no grito, e que, quando moço, vaqueiro bom era o que pegava o boi pelos chifres. E assim, o nosso encontro navega os rios da memória, os velhos vaqueiros valentes, os bailes dançados outrora, e com as palavras de Sr. Raulino ainda latentes na cuca, nos despedimos de Ponto Chique, tranqüilos pela certeza do retorno breve.

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